sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Pro pessoal que lia alguma coisa aqui, migrei para o tumblr.

maikytangerine.tumblr.com

Abraços.

sábado, 13 de novembro de 2010

Home, Home again.

Ela acorda no meio da noite.

È cedo pra acordar.

Provavelmente não dormirá mais.

Toda vez que acorda assim é porque tem algo a dizer, algo pra anotar num papel- uma frase, uma palavra, um devaneio qualquer- algo que está na garganta sufocando, apertando, doendo. Precisa escrever, vomitar ou gritar aquilo que lá está implorando para sair.

Era: casa.

Casa. Casa. Casa. Casa.

Repetia pra si mesma como um delírio, como uma demência.

Casa. Casa. Casa. Casa.

Sempre lembra de sua casa, de todos os mínimos detalhes, de todos os pequenos cantos cobertos de pó, dos porta-retratos, das anotações espalhadas pelos cantos, o brinquedo jogado no fundo do roupeiro, o cheiro do sofá, o pote de açúcar manchado com café.

Lembrava-se da sensação de estar em todos os cômodos. Como o último quarto era diferente de todos os outros; a luz que entrava era diferente, o barulho que entrava era diferente, o vento que entrava era diferente e tinha aquele cheiro de que aí dormia a melhor pessoa do mundo. A melhor pessoa do mundo tem um cheiro doce e suave ao mesmo tempo, que afaga e acomoda. Que dá vontade de chorar de tão perfeito.

Lembra-se do quanto era bom, quando criança, deitar naquela cama e sentir aquele cheiro impregnado nos travesseiros.

Era tão bom que doía um pouco. Talvez pra ser bom de verdade precise doer.

Ela conhece a pessoa pela casa em que essa pessoa mora.

Precisa sentir o cheiro, pisar com os pés descalços no assoalho, observar a maneira que se coloca as fotografias, os quadros, as imagens, a posição dos talheres.

Uma pessoa é a casa em que vive. Que vive de verdade.

Normalmente as pessoas só estão em algum lugar. Elas eventualmente chamam isso de casa. Mas não é.

Casa é aquele lugar que nós não estamos, mas gostaríamos de estar. É onírico, talvez irreal.

È bem certo que ela não pensou nisso enquanto tentava recuperar o sono.

De qualquer forma, quando acordava durante a noite insone, se revirando de um lado pro outro, com a garganta presa, não era febre, nem insônia.

É vontade de casa.

É vontade de estar aonde se quer estar.

È uma vontade boa.

Tão boa que dói.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

O que eu quero ainda não tem nome.

A Juli, me mandou um poema uns tempos atrás, que eu não lembro de onde ela tirou. Mas aí está:

Perigosa é a Liberdade- assim, tão desejada.
Perigosa é a Liberdade de verdade. Ansiada sem ser compreendida.
A única Liberdade verdadeira é a ausência total de vínculos;
Liberdade de verdade é o não-vínculo.
Só está livre quem não possui vínculos-com nada, com ninguém.
Trabalho, família, amor. Nada.

Nem consigo mesmo, nem com a vida.
Assim, o não vínculo é o não viver.
Liberdade de verdade é não viver.
É deixar de ser; é não ser.
Quem é livre, portanto, nada é. Nada pode ser.
Ser verdadeiramente livre é, simplesmente, não ser.
Perigosa é a Liberdade.
Não quero a Liberdade de verdade.
Tudo o que eu mais quero são vínculos:
De amor, de ódio, de prazer, de dor.
De viver. De morrer.
Perigosa é a Liberdade.
Cuidado com o que pedes:
Corres o sério risco de ser atendido.
Não, não quero a Liberdade de verdade.
Quero vínculos que me liguem a tudo.
Quero amar e viver e sofrer e morrer.
Quero não ter a liberdade para por ela poder ansiar-
e, assim apreciar a jornada.
Até terminar.
Livre.

"Liberdade é pouco. O que eu quero ainda não tem nome."

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

"Bom seria se todos humanos pudessem ver a humanidade perfeita de um cão"


Uma pequena pausa a respeito dos meus dramas existenciais.

Nesses últimos dias não venho pensando sobre coisas que dizem respeito ao meu próprio umbigo, ainda que as vezes valha a pena compartilhar.

Venho pensando em “coisas” e sentimentos que não pertencem aos humanos, e que muitas vezes os próprios humanos- com todos seus conhecimentos técnico/científico/filosófico- não entendem.

Falo de ca.chor.ros!

Era só mais um domingo qualquer quando resolvi sentar na praça para vê-los brincando.

Deixou de ser um domingo qualquer.

Era só mais uma sexta-feira cansativa quando cheguei em casa e a vi de pé na janela, com suas patinhas pra fora, me esperando como sempre me espera todas as sextas ferias.

Toda sexta-feira é a melhor sexta-feira...

Me pego olhando pra eles[os cachorros] e me pergunto: de onde vem tanto amor? De onde vem tanta dedicação? Tanto companheirismo? Tanta sensibilidade?

Porque o ser humano, tão orgulhoso de todas suas capacidades intelectuais, sua “superioridade” de raciocínio e seus feitos grandiosos, não absorve um pouco das qualidades de tão simples criaturas?

Morre o ser humano quando perde suas características animais.

Ah sim. Lembramos que nós, seres humanos, também somos animais. Mas, como diria Nietzsche “o animal delirante, o animal ridente, o animal plangente, o animal infeliz."

Somos animais. Animais inferiores.

Deveríamos ser adestrados por eles, os cães.

Não nos ensinariam a dar a patinha, a sentar, a pegar a bola. Nos ensinariam a amar, a respeitar, a ser fiel. Todos os valores que se fragmentam nessa nossa tão exemplar evolução. Nos mostrariam como se é feliz com coisas simples. Como sujar o nariz na terra é divertido, tão divertido quanto cavar um buraco ou se molhar numa poça de água.

Talvez nós os ensinamos a dar a patinha, a deitar, a rolar porque do resto eles sabem de tudo.

Temos muito que aprender, nós ex-animais-humanos.


sábado, 17 de julho de 2010

Embora lateje louca nos dias de chuva.

Então no meio de sua rotina pacata e sem sentido ela despencou. Sentiu uma dor no peito que não sabia explicar, e o agarrou em vão para que parasse de doer.

Não pararia. Sempre doeu. Era um dor que ela escondia por trás de suas palavras vagas, seus gestos tímidos, latejava dentro de uma caixa dura e fria que ela mesma fez dentro de si.

Alimentou essa dor com os mais requintados dos sentimentos. Fez-la beber dos mais nobres licores dos tempos. E ela assim cresceu.

Um dia esta dor estava maior que ela própria. Doeu tanto que a fez despencar no meio de um café e outro da sua rotina pacata.

Depois de alguns segundos iniciais de apreensão, ela foi procurar um médico, que nada mais era do que seu espelho de casa.

Diagnosticou-se como sendo portadora de saudade.

O tratamento? meia hora de choro compulsivo por dia estirada na cama, com os braços desfalecidos pra um lado, a cabeça afundada no travesseiro.

Uma música triste pra estimular o exercício.

Um quarto em penumbra.

Nos finais de semana, uma garrafa de bebida forte.

O analista, que desta fez seria o teto do quarto ou alguma forma imaginária sentada do lado esquerdo de sua cama perguntaria:

De onde vem esta saudade?

E ela com os olhos confusos de sempre diria que era de tudo: de seres, de cheiros, de sabores, do toque despercebido em alguma forma macia, de um olhar qualquer no ônibus que passou em algum tempo, de um latido, de um colo, dos prazeres tolos e bons.

Voltou-se ao espelho- cabe aqui dizer que nem sempre é um bom médico, porque só diagnostica o que está por fora- limpou os olhos borrados de rímel, mecanicamente ajeitou o cabelo.

Antes de sair, pegou uma fotografia qualquer de um tempo passado qualquer. De longe ela não significava o que sentia. Mesmo assim- num gesto cinematográfico- passou a mão por aquelas formas estáticas gravadas em um papel.

Saiu para continuar o dia, sem antes notar que o chão estava sujo.

Tinha vomitado.

Vomitado nostalgia.


"Se tens um coração de ferro, bom proveito.
O meu, fizeram-no de carne, e sangra todo dia".

(Saramago)

sábado, 3 de julho de 2010

Bonsai.


De repente, num sobressalto na madrugada, resolvi que iria embora.

Acordei meu namorado e comecei a fazer a minha mala, enquanto ele, ainda torpe de sono, me olhava sem entender.

Algumas mudas de roupas. Alguns livros que esperam as sempre adiadas férias para serem degustados. As fotos da família penduradas no roupeiro.

Combinei que encontraria meu namorado em 2 horas na estação rodoviária pra que ele também pudesse selecionar seus pertences para essa minha decisão repentina, porém sempre sonhada e idealizada em meus mais belos sonhos.

Estava na hora de mudar.

Pegamos um ônibus pra qualquer lugar, desde que fosse longe e isolado de tudo.

A cidade era pequena. Uma praça, um pequeno mercado, algum comércio variado e uma pensão que ficaríamos por alguns dias até encontrarmos uma casa pra alugar.

Não me lembro direito de como foi o primeiro dia que nos mudamos. Lembro só da sensação dos meus pés na grama molhada da manhã. Era uma mistura de felicidade exarcebada com uma intensa vontade de gritar.

Era a sensação de estar viva, sabe? Sensação de que estamos de fato pertencendo a um mundo que não é cinza nem sujo nem fétido. Sensação de amparar os pés aonde eles sempre deveriam estar, porque estes pés não foram feitos pro asfalto, assim como essas narinas, que foram feitas pro ar puro, esses olhos pro colorido das formas e esses cabelos pro vento que bate. Os sentidos aguçados para as coisas que pulsam não para as coisas estáticas, estéticas, estúpidas.

....


Tocou o despertador de todas as manhãs. Creio que não dormi. Divaguei muito tempo olhando pro meu bonsai em cima do roupeiro. Ele lembra muito a mim:: um pedaço de natureza prezo a um mundo que não lhe pertence.



"Fui para os bosques viver de livre vontade,

Para sugar todo o tutano da vida…

Para aniquilar tudo o que não era vida,

E para, quando morrer, não descobrir que não vivi!"

(Thoreau)

sexta-feira, 18 de junho de 2010

José Saramago. Luto.




"O filho de José e de Maria nasceu como todos os filhos dos homens, sujo do sangue de sua mãe, viscoso das suas mucosidades e sofrendo em silêncio. Chorou porque o fizeram chorar, e chorará por esse mesmo e único motivo."

(O Evangelho Segundo Jesus Cristo)


"Se um dia tiveres um filho, ele morrerá porque tu nasceste, desse crime ninguém te absolverá, as mãos que fazem e tecem são as mesmas que desfazem e destecem, o certo gera o errado, o errado produz o certo, Fraca consolação para um aflito, Não há consolação amigo triste, o homem é um animal inconsolável.
Talvez José Anaiço, que foi o da sentença esteja na razão, talvez o homem seja esse animal que não pode, ou não sabe, ou não quer ser consolado, mas certos actos seus, sem outro sentido que parecerem que o não têm, sustentam a esperança de que o homem virá um dia a chorar no ombro do homem, provavelmente tarde demais, quando já não houver tempo para outra coisa."

(A Jangada de pedra)



"O silêncio ainda é o melhor dos aplausos".
(Ensaio sobre a cegueira)


José de Sousa Saramago- 1922- 2010.