sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Este foi o resultado:

Josef e o analista. (por Maiky)

-Não quero viver nesse mund0 caótico; o caótico dos carros, o caótico dos prédios, o caótico dos seres. Prefiro a bolha, sim a bolha, a bolha fiel das utopias, a bolha confortável da desilusão, do desapego. A bolha desprovida de esperança e gabolices desse "admirável mundo novo". A bolha ébria de passado.
-Mas se é feliz em uma bolha Josef?
- Antes verdadeiramente melancólico e inquieto numa bolha, do que meramente alegre e acomodado no caos.
- Mas cabe apenas uma pessoa na bolha, Josef, não te sentes só?
-Nunca. Estamos todos muito próximos aqui: eu e os monstros criados dentro de mim, mas há fadas também, e eu preciso entender o que dizem.
-Mas deixarás de conhecer as milhares de pessoas que te cercam!
-Em breve morrerei, e seria terrível se eu tivesse em meu velório milhares de pessoas e um defunto que não conheçe a si próprio. Prefiro apenas conviver com pessoas que compreendem que uma bolha é minha morada, ou que não questionam o porquê de eu não fazer parte do apressado mundo caótico; o caótico dos carros, o caótico dos prédios, o caótico dos seres.

Esta foi a inspiração:

A flor e a Náusea -fragmento- (por Drummond)

(...)
Uma flor nasceu na rua!
Passem de longe, bondes, ônibus, rios de aço do tráfego.
Uma flor ainda desbotada
ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
garanto que uma flor nasceu.

(...)
Sento-me no chão da capital do país as cinco horas da tarde
e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Do lado das montanhas, nuvens macias avolumam-se.
Pequenos pontos brancos movem-se no ar, galinhas em pânico.
É feia. Mas é uma flor. Furou o asfálto, o tédio, o nojo e o ódio.

2 comentários:

  1. Muito bom.
    Muito bom mesmo!
    Das formas mais etéreas de pensamento surgem as mais concretas e maciças formas de genialidade!

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  2. Interessante a inquietude que te inspira, Maiky

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