sábado, 3 de julho de 2010

Bonsai.


De repente, num sobressalto na madrugada, resolvi que iria embora.

Acordei meu namorado e comecei a fazer a minha mala, enquanto ele, ainda torpe de sono, me olhava sem entender.

Algumas mudas de roupas. Alguns livros que esperam as sempre adiadas férias para serem degustados. As fotos da família penduradas no roupeiro.

Combinei que encontraria meu namorado em 2 horas na estação rodoviária pra que ele também pudesse selecionar seus pertences para essa minha decisão repentina, porém sempre sonhada e idealizada em meus mais belos sonhos.

Estava na hora de mudar.

Pegamos um ônibus pra qualquer lugar, desde que fosse longe e isolado de tudo.

A cidade era pequena. Uma praça, um pequeno mercado, algum comércio variado e uma pensão que ficaríamos por alguns dias até encontrarmos uma casa pra alugar.

Não me lembro direito de como foi o primeiro dia que nos mudamos. Lembro só da sensação dos meus pés na grama molhada da manhã. Era uma mistura de felicidade exarcebada com uma intensa vontade de gritar.

Era a sensação de estar viva, sabe? Sensação de que estamos de fato pertencendo a um mundo que não é cinza nem sujo nem fétido. Sensação de amparar os pés aonde eles sempre deveriam estar, porque estes pés não foram feitos pro asfalto, assim como essas narinas, que foram feitas pro ar puro, esses olhos pro colorido das formas e esses cabelos pro vento que bate. Os sentidos aguçados para as coisas que pulsam não para as coisas estáticas, estéticas, estúpidas.

....


Tocou o despertador de todas as manhãs. Creio que não dormi. Divaguei muito tempo olhando pro meu bonsai em cima do roupeiro. Ele lembra muito a mim:: um pedaço de natureza prezo a um mundo que não lhe pertence.



"Fui para os bosques viver de livre vontade,

Para sugar todo o tutano da vida…

Para aniquilar tudo o que não era vida,

E para, quando morrer, não descobrir que não vivi!"

(Thoreau)

3 comentários:

  1. Valkiria!
    Musa insipiradora das manifestações naturais psicológicas e hipoinconscientes apaziguadoras de paz de espírito !
    Te amo !
    ;@@@

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  2. Perfeito Maiky!!!
    Nossa! Como sou coberta dessa vontade avassaladora de simplesmente ir. De conhecer. De tocar. De, como vc disse, viver. Poxa! Quantas vezes esse amontoado de concreto e cimento nos impede de respirar... Quer saber, quando eu acordar decidida a ir, me lembrarei de vc! hehe...e vou! juro que vou!

    [não desaparece com esses seus posts incriveis...]

    ^^
    Yeruska

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  3. Adorei teus textos. Todos com um enredo maravilhoso, parabéns.
    Beijos!

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