sábado, 13 de novembro de 2010

Home, Home again.

Ela acorda no meio da noite.

È cedo pra acordar.

Provavelmente não dormirá mais.

Toda vez que acorda assim é porque tem algo a dizer, algo pra anotar num papel- uma frase, uma palavra, um devaneio qualquer- algo que está na garganta sufocando, apertando, doendo. Precisa escrever, vomitar ou gritar aquilo que lá está implorando para sair.

Era: casa.

Casa. Casa. Casa. Casa.

Repetia pra si mesma como um delírio, como uma demência.

Casa. Casa. Casa. Casa.

Sempre lembra de sua casa, de todos os mínimos detalhes, de todos os pequenos cantos cobertos de pó, dos porta-retratos, das anotações espalhadas pelos cantos, o brinquedo jogado no fundo do roupeiro, o cheiro do sofá, o pote de açúcar manchado com café.

Lembrava-se da sensação de estar em todos os cômodos. Como o último quarto era diferente de todos os outros; a luz que entrava era diferente, o barulho que entrava era diferente, o vento que entrava era diferente e tinha aquele cheiro de que aí dormia a melhor pessoa do mundo. A melhor pessoa do mundo tem um cheiro doce e suave ao mesmo tempo, que afaga e acomoda. Que dá vontade de chorar de tão perfeito.

Lembra-se do quanto era bom, quando criança, deitar naquela cama e sentir aquele cheiro impregnado nos travesseiros.

Era tão bom que doía um pouco. Talvez pra ser bom de verdade precise doer.

Ela conhece a pessoa pela casa em que essa pessoa mora.

Precisa sentir o cheiro, pisar com os pés descalços no assoalho, observar a maneira que se coloca as fotografias, os quadros, as imagens, a posição dos talheres.

Uma pessoa é a casa em que vive. Que vive de verdade.

Normalmente as pessoas só estão em algum lugar. Elas eventualmente chamam isso de casa. Mas não é.

Casa é aquele lugar que nós não estamos, mas gostaríamos de estar. É onírico, talvez irreal.

È bem certo que ela não pensou nisso enquanto tentava recuperar o sono.

De qualquer forma, quando acordava durante a noite insone, se revirando de um lado pro outro, com a garganta presa, não era febre, nem insônia.

É vontade de casa.

É vontade de estar aonde se quer estar.

È uma vontade boa.

Tão boa que dói.

Um comentário:

  1. Bá...
    oO
    Muito foda!
    Daqui um tempo já da pra sair um livro!
    haha

    Minha casa é onde a minha família está, se a minha mãe tá junto, me sinto em casa.
    E na Escócia com certeza eu me sentiria tão bem que ia doer! haha

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